segunda-feira, 31 de dezembro de 2007

Reveillon

A Bona Mater Familias deseja a todos um feliz 2008.
Até para o ano.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

Encosta-te a Mim




Encosta-te a mim,
nós já vivemos cem mil anos
encosta-te a mim,
talvez eu esteja a exagerar
encosta-te a mim,
dá cabo dos teus desenganos
não queiras ver quem eu não sou,
deixa-me chegar.
Chegado da guerra, fiz tudo p´ra sobreviver
em nome da terra, no fundo p´ra te merecer
recebe-me bem, não desencantes os meus passos
faz de mim o teu herói, não quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo
o que não vivi, hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim.

Encosta-te a mim,
desatinamos tantas vezes
vizinha de mim, deixa ser meu o teu quintal
recebe esta pomba que não está armadilhada
foi comprada, foi roubada, seja como for.

Eu venho do nada, porque arrasei o que não quis
em nome da estrada, onde só quero ser feliz
enrosca-te a mim, vai desarmar a flor queimada
vai beijar o homem-bomba, quero adormecer.

Tudo o que eu vi,
estou a partilhar contigo o que não vivi,
um dia hei-de inventar contigo
sei que não sei, às vezes entender o teu olhar
mas quero-te bem, encosta-te a mim


Jorge Palma



O que faltou no post anterior.


AS

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

VII





Porque há Natais que começam lá para fins de Maio.




AS

Saúdinha, é o qu'é preciso!


Tuomas Holopainen, Nightwish
Pela genialidade e pela mestria.
Parabéns.
AS

Merry Christmas!!!!




AS

domingo, 23 de dezembro de 2007

Feliz Natal

A Bona Mater Familias deseja a todos os seus leitores, e também a quem nunca cá pôs os olhos um óptimo Natal.

Boas Festas.

sábado, 22 de dezembro de 2007

Fim da Linha

- 3 meses tomados por 6 levam a melhor no que à avaliação discricionária diz respeito. Nada a fazer ; é o sistema.

- Não se brinca aos caixotinhos com quem tem a faca e o queijo na mão. Dá mau resultado pisar os calos a quem manda. Nada a fazer ; é mesmo assim.

- Quem é burro, fode-se, verdade absoluta e incontornável. Não há nada pior do que viver no meio de espertices quando não se tem nada de inteligente para oferecer. Nada a fazer ; é a vida.

- Quem escolhe o caminho do Direito Público não se arrepende, porque a Constituição estará sempre com o publicista.

- A boa companhia faz milagres. Está quando é preciso, traz a luz às trevas mais fechadas, é o essencial para mostrar o relativismo da Casinha cheia de Monstros Civilistas.

- O fim da linha não é bem o fim ; porque para o ano há mais, e não é pouco. Vêm aí mais 3 meses, mais caixotes, mais burrice, mais direito público e privado.
Venha o que vier, desde que a companhia permaneça.
A mesma, a melhor, perfeita.






AS

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

"Haja o que Houver"



A música sobre a qual escrevi no post anterior.
Ouvi-la multiplica os efeitos do poema que contém.




AS

domingo, 16 de dezembro de 2007

A Força do Verbo

Haja o que houver, eu estou aqui
Haja o que houver, espero por ti

Volta no vento o meu amor
Volta depressa, por favor

Há quanto tempo já esqueci
Porque fiquei longe de ti


Cada momento é pior
Volta no vento por favor

Eu sei
Quem es para mim
Haja o que houver
Espero por ti

Há quanto tempo já esqueci
Porque fiquei longe de ti

Cada momento é pior
Volta no vento por favor

Eu sei
Quem es para mim
Haja o que houver
Espero por ti

Eu sei, eu sei
Quem es para mim
Haja o que houver
Espero por ti


Madredeus


Hoje queria contar uma história, mas não tinha palavras para ela. Porque ficava muito acima daquilo que os meus vocábulos alcançavam. Por mais que procurasse, não encontrei o que fosse suficiente para a descrever.

Então, encontrei isto. Poema que diz tudo, que me roubou as palavras, a melodia que as envolve, a mensagem que queria passar. Por isso alguns são geniais, e outros meros mortais que não se sabem expressar.



AS

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Falai no Mal ...




Por falar em falhas de comunicação, mesmo a calhar.
Não no todo, não a 100%, mas faz lembrar qualquer coisa.






AS

Falha de Comunicação

O que é :

- falha no envio da mensagem
- falha na recepção da mensagem enviada
- problemas ao nível da audição
- problemas de interpretação
- mensagem pouco clara

O que passa a ser :

- conversa de surdos
- precipitação
- impulsividade
- paranóia desmesurada
- parvoíce estupidamente amorosa
- 2,5l de lágrimas
- final feliz



AS

Querido Pai Natal

Mais um ano, mais um Natal que se aproxima. Este ano chegou rápido, nem sei como não vi o tempo passar. É daqueles tempos que passamos a vida a querer que chegue, e quando finalmente cá está nem se dá por ele. Que ironia.

Mas, ironias e sarcasmos à parte, não te escrevo para te pedir presentes, com a desculpa de que fui extremamente bem comportada e boa menina.
Na verdade, fui a mesma cabra de sempre. Fiz asneiras, umas atrás das outras, como sempre. Não me contive a pensar que devia ser boa ou má, simplesmente fiz. Também fiz coisas boas… quer dizer, devo ter feito, mas não me lembro.
Fizeram-me coisas menos boas também, e como boa menina que pretendo ( não ) ser, não perdoei, e espero ardentemente que venha o tempo em que possa pagar na mesma moeda. Também me fizeram coisas boas, dessas, só me lembro de uma, que continuo a prezá-la do meu lado.
Por isso, não preciso de me justificar e dizer como fui boazinha, porque não é verdade, e rastejar, pedinchando presentes que já sei que toda a gente me vai dar. Não consigo ver o tamanho da estupidez de semelhante atitude, e fazer as crianças passar por isso é do mais idiota, e até cruel, que se pode fazer ; fazer penar alguém pelos supostos pecados cometidos só para, no fim, receber uns quantos presentes no sapatinho é ridículo e altamente maldoso. Ainda para mais, tendo em conta que são pequenos e que não tem exactamente a capacidade de se portarem bem a tempo inteiro. Não tenho ideia de qual será o propósito subjacente a isto, mas deve ser algum.
Muito estúpido, mas com certeza, existente.

As futilidades habituais já os suspeitos do costume mas vão dar ; de resto, não preciso de nada, obrigado. Por isso, também não preciso de me portar bem, já que sou a prova de que bom comportamento e bons presentes não andam necessariamente de mãos dadas.

Essencialmente, escrevo para te mandar pastar. Não!, para te mandar à merda, que é mais correcto para com as minhas intenções.
Porquê? O grande motivo acabei por já o explanar ; não percebo qual é a ideia de incutir em criancinhas o espírito do cinismo, da hipocrisia e do consumismo atroz, de se fazerem boas e portarem-se bem para terem mais um ou outro brinquedo que, nos dois meses a seguir às festas estará destruído, desmontado, desaparafusado, amolgado, quebrado.

Não entendo qual será o objectivo de incutir uma cultura de interesseirismo, de fazer alguma coisa para obter um bem material.
É esse o espírito do Natal? E afinal o que é o espirito natalício? Aquele que faz com que as pessoas que durante um ano inteiro se tratam mal, se violentam, se maltratam ou pura e simplesmente, se ignorem, se juntem agora na mesma mesa e comam da mesma travessa? Aquele que faz com que, por uma noite, todos finjam ser felizes, mesmo que não o sejam, nem desejem estar uns com os outros?

É para isto que há o Pai Natal? Para ensinar as futuras pessoas crescidas a tornarem-se cínicas quando chega o mês de Dezembro? É isto que se pretende, ao invocar-se e idolatrar-se, até, a figura do Pai Natal?

Parece-me que sim, que é este, de facto, o objectivo principal. Para que todos tenhamos uma época festiva feliz e despreocupada, fingimos todo ser bons, ser simpáticos e altruístas, fingimos gostar todos uns dos outros ; assim, recebemos mais presentinhos e o bacalhau cai-nos melhor.
Porque no resto do ano, não há Pai Natal. Não há bondade nenhuma, porque também não há presentes para receber. Não há simpatia nem altruísmo, porque todos se marimbam para quem se senta à mesa da Consoada. Porque, afinal, funcionamos todos como os burros, que só andam para a frente, se o homem que estiver em cima lhe puser uma cenoura à frente dos olhos, que o faz mover. Nada nos distingue.

É esta a ideia que se quer transmitir do Pai Natal? Que não passa de um velhaco que ensina trafulhices consumistas aos putos?
Prefiro pensar que não existes de todo. E por isso, mando à merda uma inexistência material.
Feliz Natal.




AS

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Musicalmente Sonhando



É o que dá ouvir músicas velhas antes de adormecer.
Do melhor do meu baú.



AS

Clarividências

Vejo um dia de inverno, vejo o vento que bate na janela e faz os vidros dançarem nos caixilhos. Vejo o frio que ataca as pessoas na rua, que as faz andar completamente cobertas com cobertores de calor. Vejo o sol, tímido, que espreita entre as nuvens escuras.
Vejo vidas que correm na minha frente. Umas que se acabam, outras que começam. Outras ainda que simplesmente, estagnam ; e ali ficam. Ficam quietas, sossegadas, imóveis ; vêem outras vidas passar, sem notarem, sem preocupação, sem mágoa ou mácula. Não se mexem, não morrem. Mas também não vivem. Simplesmente existem.
Vejo o que não se mexe, inerte, amorfo, quieto no seu canto à espera que a vida aconteça. Vejo o que se gasta e se consome, que se destrói e amargura por causas perdidas, por coisas perdidas, por experiências já vividas.
Vejo quem não consegue lutar sozinho, se arrasta na corrente, que não tem força para se levantar e correr.
Vejo quem se afoga sozinho, com o frio a invadir-lhe os pulmões, a perfurar-lhe a carne, a apodrecer o último laivo de esperança.
E a seguir morrem. Sozinhos. Tristes. Abandonados.
Vejo tudo isto pela janela, num dia de inverno.
Janela que não mostra o meu reflexo.





AS

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Porque sim

Pensemos em auto-estima.
Consideremo-la baixa. Não! Nula. Inexistente. Reflexamente, tenhamos em conta a necessidade incessante, neurótica, quase obsessivas de aprovação: não por nós mesmos, não de olhar para o espelho e aceitar incondicionalmente aquilo que se tem, aquilo que se é, e no fundo, aquilo que, feliz ou infelizmente, é inato, mas o desejo íntimo e secreto de simplesmente pertencer, encaixar-se no perfil; ser aquilo que os outros esperam.
Abraçando esta vontade de demonstrar uma imagem de perfeição impecável, de corresponder às expectativas de sombras específicas que vão pairando ao longo da nossa existência, vamos esquecendo o nosso próprio desenvolvimento. Não somos nós, nem nunca seremos. Seremos para todo o sempre mutantes. Invólucros ocos que mudam consoante a brisa e se adaptam a humores e devaneios destas sombras.
É preciso ver a luz! Quebrar as correntes e viver!
Não é possível. O autómato em que nos tornámos não aprendeu a ganhar directrizes próprias, a conhecer o caminho e o medo de ser tarde de mais assombra-nos. O ciclo é vicioso e ter consciência dele e da sua irreversibilidade é o pior.
Tristemente perdemos a capacidade – ou então nunca ativemos de todo – de confiarmos em nós mesmos. Não somos seres resistentes; estamos agora e para sempre vulneráveis a insultos, a levar a peito impropérios injustos, a ser rebaixados sem causa justificativa, porque, em última instância não nascemos com a habilidade de simplesmente olhar para o espelho. Somos anorécticas da alma, e toda a vida veremos o que está diante dos nossos olhos de forma retorcida.
A auto-análise não está nos nossos genes; somos pisados, ultrajados e magoados e tudo porque nunca soubemos reconhecer o (grande) valor que temos.

E é por isso que não somos nada, somos ridículos.
Perdoem-nos. Resquícios de auto-estima baixa. Não! Nula. Inexistente.

SB

Can you hear me cry?

Há dias em que sair da cama é uma má jogada.
Há dias em que a estupidez flutua por cima da cabeça de toda a gente, inclusive de quem a vê flutuar acima dos outros.
Há dias em que apenas se vê coisa nenhuma, e sentido algum no que se está a fazer.
Dias em que ouvir os outros trautear asneiras, e ouvi-los sem ser capaz de pronunciar um única palavra que afaste as ditas asneiras.
E depois há pessoa, dentro destes dias recheados de pura parvoíce e idiotice atroz, que salva um dia que não merecia ser salvo, uma vez embuído do espírito da auto-destruição.
Este é um dia desses.
A pessoa esteve lá.
Sempre.



AS

Divagações Paulianas

Falemos de utilidade : o que é e para que serve.
Utilidade traduz-se nos furtos produtivos de uma qualquer acção. É útil aquilo que se faça que vá trazer algum proveito no futuro.
Serve essencialmente para ensinar qualquer coisa a quem o faz. Ou para trazer algo de positivo a quem empreende tal acção.
Ora, quando aquilo que é suposto fazer não dá qualquer fruto, não traz proveito algum, não dá vantagem nenhuma, quando não ensina nada de novo, quando não dá nada de positivo, para quê fazer? Para quê?
Para perder tempo.
Porque se perder tempo é a coisa mais estúpida que há a fazer, então porque não não fazê-la?
Qual é o sentido disto?





AS

Decoração de Interiores II

O cúmulo de todas as analogias que se podem fazer neste âmbito é aquela que atravessa toda uma vida, sem alterações. Ainda existem nuances nos outros comportamentos descritos, nem tudo é tão selvagem nem tão brutal como na infância ; há todo um jogo de subtilezas e subterfúgios que tornam o mundo dos adultos tão afastados do das crianças.

Porém, nem todas as vivências sociais adquiridas ao longo de uma vida são capazes de camuflar o mais básico, uma espécie de instinto : ciúmes. Inveja. Dor de corno. O que se queira chamar.

Porque tal como uma criança ciumenta se torna ( ainda mais ) cruel, mais mesquinha, porque se vê confrontada com a possibilidade de haver mais gente no mundo para além dela mesma, assim agora o adulto, que para além de ciumento, se torna irreflectido, igualmente odioso e inconsequente.
Rapidamente deixa de ser amoroso e querido para se tornar um monstro devorador de paciência e bondade alheias, transformado num ser repelente que não conhece fronteiras aos limites da velhaquice e na arte de humilhar e magoar quem está à volta.
Tudo porque vota vencido. Porque não levou a sua avante. Porque perdeu.

Todas as crianças serão assim, pelo menos, nalguma altura das suas vidas. A vantagem é que a maioria aprende rapidamente as artimanhas sociais, peritas na arte de disfarçar, tornar ténues os traços menos bons da personalidade.
Curioso é como algumas, as que crescem, as que se tornam adultas, não se dão ao trabalho de disfarçar semelhantes acções, e exibem-nas por aí, com requintes de malvadez.

Curioso como nunca ninguém se lembrou que, às vezes, o melhor remédio para uma criancinha impertinente, egoísta, malvada e contagiada pelo espírito da estupidez, é uma bela duma solha, bem assente, como diria a mais típica das avózinhas, quando a fera mostra as garras.
E os adultos que fazem as mesma coisas, ainda terão avó que lhes assente dois sopapos nas ventas?



AS

Decoração de Interiores

Observar crianças a interagir com os seus pares é uma actividade engraçada. E produtiva. Através desta observação, consegue formar-se uma ideia de como estes pequenos seres poderão ser e agir mais tarde e, melhor ainda, consegue ter-se uma ideia generalizada de como outras crianças mais crescidas actuam no seu meio. Porque a diferença entre as crianças e os adultos, aparentemente, reside no comprimento das pernas e no volume do corpo.

Senão vejamos :
Quando uma criancinha não tem aquilo que quer, chora, grita, faz birra, incomoda toda a gente com o seu chinfrim endurecedor ; os adultos, quando contrariados, não choram, nem gritam, nem fazem chinfrim ( à frente dos outros, claro está ) mas a birra permanece, continua a ser feita, apenas mais discretamente ; mas o facto do petiz mimado que não tem o que lhe apetece, e por isso parte para uma valente má disposição, conduta patente no adulto, igualmente mimado, que faz cenas ridículas e que em nada devem à inteligência, quando as coisas não correm como o esperado. Retiram-se uns quantos berros, lágrimas de crocodilo e um espernear frenético, enquanto se bate vigorosamente com os punhos no chão, e a cena da infância poderia ser a da vida adulta. A subtileza é a grande diferença.

Mais : quando uma criancinha inocente entra num briga com uma outra criancinha, igualmente inocente, e não se consegue defender convenientemente, parte de imediato para a agressão, seja verbal ou física. A verdade é que a maturidade dos seres que se atacam mutuamente no recreio da escola não passa de uma pequena gota em toda a sua personalidade em formação, pelo que não lhes é exigível que se saibam comportar, sem parecerem que vivem na aldeia dos macacos, quando se envolvem em zaragatas.

Curioso é o facto de tal fenómeno se repetir quando as crianças crescem, se tornam crescidas, e interagem de maneira diferente com os outros membros da sociedade, que não toque os limites dos empurrões e das bofetadas à hora do intervalo. Talvez a violência não seja tão explicita, nem tão perceptível, mas o facto é que, quando não se encontra mais forma nenhuma de defesa, a melhor defesa passa a ser o ataque .
Quando o chupa-chupa se parte e não sobra mais nada senão o pauzinho, o que há a fazer é partir para a pancadaria ; quando o algodão doce se acaba, a solução é bater na velha que o vende.

A melhor defesa passa a ser um ataque de estupidez e baixo nível, que mostra o quão triste se é quando é necessário usar a força, mesmo que verbal, para se fazer valer. Porque não há outra maneira de sobressair sem ser a pisar os dedos de quem se encontra pendurado no abismo.
Tão fácil ser criança a tempo inteiro, e este tipo de atitudes ficarem justificadas pela ternura da idade e por uma crueldade própria do tempo jovem.





AS

sábado, 8 de dezembro de 2007

Presunção Ilidível

Tempo perdido é uma expressão extremamente usada no vocabulário das gentes habitantes no planeta terra. Não contentes com a complexidade da palavra e do conceito de tempo em si, crêem piamente que adicionar-lhe outro termo, não menos complexo, é facilitar de alguma forma a justificação de tantas outras expressões que ficam por explicar.

Perder, de facto, tempo é o que se faz todos os dias, seja em que circunstância for. É inevitável ; há sempre algo que se faz que não vale mesmo a pena, que não dá frutos nenhuns, que só serve para dar coisa nenhuma a quem o faz. Não há um único dia em que pelo menos um minuto não seja dedicado ao lazer de perder tempo com alguma coisa. A questão é que perder tempo não é o mal em si.

Pior, é a presunção de que se pode recuperá-lo, de que se pode voltar atrás e fazer como se nada se tivesse passado, como se o tempo que se gasta a fazer o que provavelmente não se devia pudesse andar para trás, como se tivesse um botão de rewind nos fundilhos.Presunção essa que se torna idiota até à exaustão quando quem a quer fazer funcionar insiste em procurar incessantemente o dito botão, mesmo estando farto de se saber que nunca existiu.

Se a noção de tempo pedido é complexa, e até descabida, mais estúpido se torna a vontade de recuperá-lo por força da activação de uma presunção que só com muita sorte não é inconstitucional. Se há coisa que não é passível de alteração, ou de recuo é o tempo. Mesmo que a seguir venha arrependimento, ou remorso, ou consequências nefastas do que foi feito, mesmo que venha perdão, reconciliação, retorno da situação antes existente, o que foi feito é apagado. Fica marcado, apontado na linha do tempo, mesmo que seguidamente venha uma rectificação do acto viciado. Nada se apaga, não se esbate, mesmo que seja esquecido. Porque o tempo tem boa memória.

Recuperar tempo perdido é uma perda de tempo em si. Porque não é possível voltar atrás com o tempo, muito menos com o tempo que se perdeu. Há inutilidades a que se dedicam horas, minutos do dia, porém esse tempo fica sempre dedicado a essas mesmas futilidades ; não se pode subtrair tempo ao que não interessa para aplicar no que se julga interessante quando já se gastou tempo na primeira hipótese. Gastou-se, acabou, expirou. Não é passível de recuperação.

Recuperar tempo perdido não existe. Não é possível. Passou o momento. Passou o tempo. Não há volta, sem retorno. O que se faz é tentar colmatar as falhas do passado com o tempo que se tem presentemente. E mesmo assim, se me perguntarem, já se vai tarde. Mais uma vez, perde-se tempo, que a seguir faz falta para qualquer coisa mais interessante, e que inevitavelmente, se vai sentir que a perda de horas pesa novamente na medida da presunção. Totalmente ilidível.





AS

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Só Hoje




Para dias em que o cansaço aperta, e não há mais força para recordar músicas diferentes das que estes senhores fazem. Já sei que os "cito" muitas vezes, mas nunca é demais, porque são mesmo bons naquilo que fazem. Mesmo bons.

"Ohne Dich", Rammstein in "Reise, Reise".





AS

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O Silêncio da Norma

Sentados, direitos, pernas em ângulo recto ; calados, livros abertos, folhas brancas por preencher, canetas frenéticas que se agitam sobre o papel. Cabeças baixas, olhos que varrem frases, sem nexo, sem pontuação ; apenas vêem. Agitam-se os braços, as mentes, mordem-se os lápis, mordem-se os nervos. Mordem-se as angustias de um tempo que podia ter sido melhor aproveitado, apontamentos que não se leram, páginas que se passaram à frente, leitura que não interessa. Fica tudo presente no momento em que a mão quer escrever o que o cérebro não se lembra.

Uma cadeira de intervalo, centenas de figuras, uma sala cheia de pensamentos fervilhantes, uns esquecidos, outros por concretizar. À volta, mais gente se prende com frases que não batem certo, com memorandos que não dizem tudo, filas e filas de linhas de letras negras dançantes, que bailam diante dos olhos, sem nada para contar. Nada disso agora interessa ; é tempo de mostrar o que se fez nos últimos dias, em que o sono atraiçoa quem confia, e a falta de tempo cobre com o seu manto a pouca vontade de levar por diante um objectivo.

Livro aberto, páginas dobradas, cantos escrevinhados com memórias de última hora. Um derradeiro olhar para as histórias que conta, sem esperança de ler alguma coisa que ajude a atenuar o que nasce do que devia estar sabido. Mas não se sabe. Está em branco, o livro. Nada diz ; está tudo omisso, falta dizer tudo, falta escrever tudo, falta ler aquela página que se saltou porque o velho que a escreveu, afinal, não sabia o que estava a escrever. Ou talvez soubesse, e daí nasce a doutrina ; das mãos de um velho que julgava saber tudo sobre a norma, que a conhecia e fazia dela a sua casa.

As figuras agitam-se, terminam frases, revêm conceitos, aditam argumentos ao texto brilhantemente coerente. Arrastam os pés no chão, revolvem-se nas cadeiras, espreitam quem está ao lado, num gesto tão característico de puro desespero.

Faltam 5 minutos.

Folhas dobradas, identificadas, profundamente vincadas pelos sulcos da tinta que as mancha. Tempo para reler o que foi escrito. Nada a acrescentar ; não é possível alisar os vincos no papel maculado pelo colorido assassino de uma caneta que não sabe o que escreve. Está feito.

O livro continua aberto em cima da mesa, abandonado, prostrado. As histórias contadas por ele não mais serão lembradas ; não há nada que as distinga. Relata contos de carrascos, sagas de crimes, ondas de leis que salvam agentes de penas gravosas. Nada, não diz nada. Fica tudo apagado no burburinho das figuras que se levantam e vão embora, levando os seus pertences e conversas de bolso sobre penalidades temporais. Nada, não dizem nada. Esquecem-se do que foi dito no segundo seguinte.

Porque a norma levou a melhor, até sobre o velho que sabia tudo sobre ela, que conjecturou a sua vida à volta dela, que teceu enormes considerandos sobra a sua essência.

Porque a norma está, hoje, em silêncio.




AS

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Dos crimes contra a Propriedade

Coisinha vai na rua quando, nada ciente da sua limitada capacidade cognitiva, se lembra de ir roubar laranjas ao pomar do Sr. Taipa, que a vê em pleno acto de furto, e a denuncia às autoridades, não sem antes lhe assentar duas valentes solhas nas ventas.
No dia seguinte, entra em vigor uma alteração ao Código Penal, que vem penalizar o furto de laranjas em 5 meses de trabalho comunitário a limpar latrinas nos hospitais e asilos à infância desvalida.
Ainda no âmbito dessa alteração ao diploma penal, o artigo referente ao furto de laranjas passa também a abarcar :

a) inimputáveis e demais diminuídos ;
b) gorilas ;
c) quem se pareça com os seres descritos nas alíneas anteriores, mesmo sem sentença de interdição ou certificado do jardim zoológico da área de residência.

Como poderá Coisinha escapar desta?






AS

domingo, 2 de dezembro de 2007

Todos querem governar o mundo




Welcome to your life
There's no turning back
Even while we sleep
We will find you
Acting on your best behaviour
Turn your back on mother nature
Everybody wants to rule the world

Its my own design
Its my own remorse
Help me to decide
Help me make the most
Of freedom and of pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world

Theres a room where the light wont find you
Holding hands while the walls come tumbling down
When they do Ill be right behind you

So glad weve almost made it
So sad they had to fade it
Everybody wants to rule the world

I cant stand this indecision
Married with a lack of vision
Everybody wants to rule the world
Say that youll never never never never need it
One headline why believe it ?
Everybody wants to rule the world

All for freedom and for pleasure
Nothing ever lasts forever
Everybody wants to rule the world




Um grande clássico de uma década de ouro para a música.
Para abrir um sorriso num domingo completamente cinzento.

( Tears for Fears, "Everybody wants to rule the world" )




AS

Fica esta gente na história por coisas destas...3


« Doublethink significa a capacidade de albergar no espírito simultaneamente duas convicções contraditórias, aceitando-as a ambas. (…) Este processo tem de ser consciente, ou não seria levado a cabo com suficiente precisão, mas também inconsciente, ou acarretaria um sentimento de falsidade e portanto de culpa. O doublethink é a pedra de toque do Ingsoc, uma vez que a atitude fundamental do Partido consiste em recorrer à fraude consciente, mantendo ao mesmo tempo a firmeza de propósitos que acompanha a honestidade absoluta. Dizer mentiras deliberadas, nelas acreditando com sinceridade, esquecer qualquer facto que se haja tornado incómodo, para depois, quando de novo necessário, o arrancar ao esquecimento enquanto for preciso e nunca por mais tempo; negar a existência da realidade objectiva continuando a levar em conta a realidade negada - tudo isto é absolutamente indispensável. (...) Porque o segredo da governação consiste em combinar a crença na nossa própria infalibilidade com a capacidade de aprender com os erros cometidos.»

Orwell sabia, e já o dizia. Achei apropriado partilhar ensinamentos.
George Orwell, 1984

SB

sábado, 1 de dezembro de 2007

A Carta V

Cara Amiga :

Sinto-me gorda, pesada, disforme. Não estou em mim, não estou na minha melhor forma. Estou fora dos meus padrões, fora da minha linha.
E não estou a gostar. Não estou a gostar mesmo nada. Detesto ver-me assim ; pior, não consigo ver-me nem fazer-me mais pequena. Estou enorme.

Não consigo deixar de comer abundantemente. Não consigo parar para pensar que posso estar a seguir um caminho sem saída possível ; só penso que será, com toda a certeza, uma fase, que passara algum dia, enquanto me afogo em pacotes de bolachas e batatas fritas. Porque as calorias trazem-me o calor interno que perdi há muito tempo. Porque enquanto estou a comer não penso no que verdadeiramente incomoda, mas no que é também verdadeiramente importante ; deixo de ver o que me dói ver, deixo de sentir o que não queria sentir. Deixo, simplesmente, de viver para passar a comer, e comer passa a ser a minha vida.

Porque há coisas que demoram a ser esquecidas. Há coisas que custam a ser digeridas. Há coisas que doem. Tal como a comida mal mastigada custa a engolir, também factos existem que não se desvanecem só porque se decide fingir que eles não constam. Há coisas que martelam o espírito, que não o deixam em paz. E o espírito tem ligação directa com o estômago, e por isso como. E pensar nestas coisas que não quero pensar nem ver faz-me ter vontade de comer. E como. Desenfreadamente.

Tens-me pesada, cara amiga. Muito pesada.

Cumprimentos,

Aquela que te atura.



AS