domingo, 30 de setembro de 2007

Mega Recepção do Caloiro. O Rescaldo.

Não sei sequer se é igual às outras todas; nunca me dei ao trabalho de ir a nenhuma. Vêem-se caras novas, algumas das antigas também por lá andam. Eventualmente se nos rodearmos de party-boys natos sabemos que a noite não poderá correr mal. E não correu.
Caras novas estavam lá as suficientes. Caras semi-novas, amigos circunstanciais, conversas de ocasião, esses então estavam lá aos montes, para dar e vender, tanto que passei a noite a dizer "Olá, estás bom?" sem sequer abrandar o passo enquanto o fazia.
Já as caras antigas, e aqueles que realmente interessavam eram poucos; aqueles de quem nos lembrámos a noite toda, aqueles que a cada brinde só pensávamos "Devia estar aqui!".
Mas não; a faculdade, (vá, neste caso era um evento para todas as faculdades, eu sei, mas apetece-me culpar alguém, como tal queixo-me de quem está mais perto, a minha faculdade) a mesma que pensa nos caloiros e nas festas em sua honra (como se os caloiros tivessem direitos!!!) também impede os outros alunos de se divertirem. Exames a horas tardias e em datas ridículas. Contudo a necessidade de fazer cadeiras fala mais alto. Pelo caminho fica a vontade, o gostinho, o apanhar um pouco da diversão nem que seja pelo relatar da noite.
Em Outubro ninguém escapa. Em Outubro não há nada que nos possam marcar que já não estejamos prevenidos! Em Outubro é a desforra! Venha a cerveja, venha a sangria e o eventual marcar de território de certas pessoas.
Ca esperarei...
SB

Animais da Quinta - parte II

Quando chega uma nova ovelha ao rebanho, parece que as outras ovelhas ficam todas malucas com a nova companhia. Rejubilam alegremente, à volta do novo troféu, que se passeia vaidosamente, com um olhar arrogante, cheio de vento e novidade.

As outras ovelhas, coitadas, que nunca tinham visto espécimes destes, acham verdadeiramente que nada podia vir de melhor, que o que vêem é o supra-sumo do social, que não pode haver nada mais perfeito, que uma lufada de ar fresco na sua mísera vida.

A ovelha nova, é nova, mas sabe muito, e onde as outras pastam, já ela fez a digestão. Por isso, vai-se chegando com falinhas mansas, com fofuras e miminhos, para ver se se integra rapidamente, para não ter que ter muito trabalho a endrominar outras ovelhas. Mas nem por isso se esquece dos passos básicos que deve tomar, para não deixar que nenhuma das ovelhinhas mais espertas se aperceba que afinal, nem todas as fofuras, nem todos os mimos são de facto verdadeiros.

Se por acaso algum desses serezinhos idiotas consegue ver mais que uma lã bem escovada e um sorrisinho brilhante, terá de se ver com as outras a quem manifestar tais impressões que, assim que ouvem estas teorias, desatam num ataque fulminante à coitada que se atrever a abrir a boca para insultar a querida pequena deusa.

E os dias vão passando, sem tumultos, sem atropelos, a não ser aqueles que são dados por baixo da mesa, discretamente, como quem não quer a coisa, e que toda a gente finge que não vê, para não haver cá berbicachos, ou não se vê de todo, porque os óculos estão caros, e não há maneira de se ir trocá-los.
Assim caminha um rebanho, com elementos que até observam, mas que têm que ficar caladinhos, com outros que não vêem um bezerro coxo, mas se acham tão especiais, tão espertinhos, tão amados por quem aparenta ser o amor de uma vida de pasto.

Até ao dia em que vem o pastor, pega na ovelha nova e leva-a para o outro lado da cerca. Corta-lhe a lã, deixa-a nua, despida das peneiras e manias, dos preconceitos e taras, na frente de todos os outros. Depois, com uma faca no pescoço, faz-se o jantar para seis ou sete, que não se pode estragar nada.
O sangue jorra, quente, como um rio que corre, molhando os pés das ovelhas restantes, observadoras.
Acabou-se a jovialidade, a alegria, a espontaneidade da nova ocupante da quinta. Agora é só mais uma no meio delas, sem mais, sem menos, com todos os podres que nunca que quiseram ver, sem nenhum dos defeitos que lhe quiseram impingir. Sem nada, nada do que as outras não tenham. Não é nenhuma estrela. Se algum dia foi, acabou-se agora.

As ovelhas observam, quietas, impávidas. Umas choram, desviando o olhar da mancha rubra que cobre o chão. Outras, não choram, não estão tristes pela perda, mas também não riem. Aquelas que viram o que de facto existia numa simples ovelha novata, não uma diva, mas uma entre tantas outras.

Poderiam vingar-se, agora ; dizer, altivamente, “Estão a ver, não lhes disse? Quem tinha razão, afinal? Ora tomem lá!". Não dizem nada. Podiam rir-se da ironia espalhada na cara morta da agora velha e partida ovelha, mas não o fazem.

Mas, secretamente, têm vontade.





AS

sábado, 29 de setembro de 2007

Outra vez?

E se não tivesse feito nada do que fez até agora? E se tivesse nascido agora, como seria? Se não conhecesse nada do que vê, se não soubesse identificar nada do que sente, nada do que é?

Seria virgem outra vez? Seria inocente? Seria pura, sem mácula, sem maldade?
Seria de novo aquilo que nunca foi? Pode ser-se aquilo que nunca se foi, só para voltar a ser o que se deseja ser?

E se tivesse feito ao contrário? Se em vez de ter feito o que fez, tivesse feito o oposto? Estaria assim agora? Saberia o que sabe hoje? Teria as mesmas questões, as mesmas dúvidas que tem neste momento?

Provavelmente. Nunca estará satisfeita com nada. A insatisfação e a busca do perfeccionismo ( não da perfeição ) ultrapassariam largamente tudo o que viveu, e nunca seriam suficiente.
Seria virgem outra vez? Para fazer tudo diferente?
Para não se deixar levar nas mesmas cantigas, nem cair nas mesmas armadilhas?
Para quê? Para, fazendo diferente, fazendo o oposto, cair noutros buracos e ouvir outras melodias?

Seria virgem outra vez?
AS

Típico IV

O que de melhor pode acontecer a uma pessoa senão encontrar a sua identificação total e absoluta, de uma forma tão notória, que causa o mesmo efeito que olhar num espelho?

O que de melhor poderia ocorrer senão encontrar o reflexo de si mesmo?

O que seria melhor senão ver um gémeo, sem diferença alguma, com tudo igual, como duas gotas de água?

Sair uma pergunta sobre venire contra factum proprio no exame mais odioso de todos.
AS

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Interrogacões Existenciais II

Alguém tem à mão um Código Civil?
A título de mera curiosidade, abram no artigo 1359º, e pensem no que lá se pode ler.
Sebes vivas.
Sim, o Código Civil prevê um ataque fulminante de plantinhas trepadeiras aos montes, prontas a conquistar o terreno do vizinho e não vai de modas : não podem ser plantadas sebes vivas sem que se coloquem previamente os marcos divisórios, sob pena das plantinhas demoníacas comerem o terreno que não lhes pertence.
Lembro-me de, algures na escola primária, me ter sido ensinado que todas as plantas são seres vivos. Logo, as sebes são seres vivos automaticamente. Logo, a denominação é estupida.
Ou também é proibido plantar sebes mortas, que também elas comerão o terreno alheio?
Existem sebes mortas que constituam perigo de serem extreminadoras de marcos divisórios de terrenos que não lhes pertençam?
Melhor que isto só as goteiras no terreno alheio, que causam insónias ao pobre do vizinho que vê o seu sono interrompido porque o estarola do outro vizinho não deixou 5 decimetros entre os prédios. Também conhecido por artigo 1365º.
Haja gente disposta a este tipo de pormenor para tornar a vida de jovens juristas um inferno real, total e autonomamente fraccionado.




AS

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

IV

We used to swim the same moonlight waters
Oceans away from the wakeful day

Scent of the sea before the waking of the world
Brings me to thee
Into the blue memory

Into the blue memory

A siren from the deep came to me
Sang my name my longing
Still I write my songs about that dream of mine
Worth everything I may ever be

The child will be born again
That siren carried him to me
First of them true loves
Singing on the shoulders of an angel
Without care for love n` loss

Bring me home or leave me be
My love in the dark heart of the night
I have lost the path before me
The one behind will lead me

Take me
Cure me
Kill me
Bring me home
Every way
Every day
I keep on watching us sleep

Relive the old sin of Adam and Eve
Of you and me
Forgive the adoring beast

Redeem me into childhood
Show me myself without the shell
Like the advent of May
I`ll be there when you say
Time to never hold our love

My fall will be for you
My love will be in you
You were the one to cut me
So I`ll bleed forever

Ontem, a letra.
Amanhã, a música.
Dedicada desde o primeiro momento, a invicta melodia.




AS

O adeus definitivo às virgens

Quando é que de facto se perde a inocência? Aquela singeleza da alma, aquela candura única , aquela ausência de culpa, de remorsos, de pecado? E por outro lado porquê a conotação negativa? Porque não ausência também de experiência?Porquê achar que o facto de já não se ver a vida com doses gigantescas de raios de sol, arco-íris radiantes, sorrisos e cachorrinhos felizes é algo assim tão mau? O que há de errado em perder aquela cobertura de açúcar que toda a vida nos envolveu?

Alguma vez de facto nos protegeu?

Nada há de pecaminoso em perder a inocência; não é assim tão mau ver as coisas pela perspectiva positiva, entender que no fundo não houve uma desconstrução, uma desaprendizagem; houve crescimento, adestramento. Copo meio cheio! Copo meio cheio!

Se calhar doeu, se calhar custou, se calhar perfurou de forma tão profunda que deixou uma ferida, está em chaga e por vezes parece que ameaça, teimosa, em nunca sarar. Mas, em retrospectiva, não é bem na altura que dói. Na altura há um gostinho pérfido em manter a aflição, em colocarmo-nos no limbo e na ânsia de eventualmente a nossa vida mudar de forma radical num nanossegundo (torna o sentimento do mártir numa coisa muito mais solene). Leve excitação. Sentimos prazer até, porque no fundo fomos nós que nos colocámos naquela posição
- For experience purposes only... Pareceu valer o esforço. Pareceu e assim foi.

Foi na altura, porque se por momentos esquecemos as consequências nefandas dos nossos actos - lá está! Inocência! – é depois que inevitável e subitamente nos cai o mundo em cima.

É depois.
Depois.
Sim depois.
Depois do caminho penetrado!
Depois da via completamente escancarada!
Depois de ser impossível voltar ao ponto de partida!

E aí vemos. Tudo novo, tudo estranho, mas inevitavelmente tudo o mesmo, sempre o mesmo, o maldito mesmo de sempre. O que mudou? Simplesmente a paleta de cores com que víamos o mundo que nos rodeava. As leves nuances cinzentas é que dão cor à vida.

E não há absolutamente nada de errado nisso. É a vivência, são as circunstâncias, são, fatalmente, os outros que nos rodeiam. Fica o pesar de nunca mais podermos ver o mundo em eterna Primavera, a mágoa de saber que nunca voltaremos a reencontrar aquela essência que tanto acarinhávamos e dávamos como garantida. Fica a dor. Mas a dor é um passo, é importante e em última análise, cria carácter.

É tentar viver além dela, com as novas armas. Felizmente agora sabemos como é o mundo real.
SB

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Quid Juris?


Coisinha vai visitar os primos ao jardim Zoológico.

Como apreciou imenso o Gorila, resolveu ignorar todas as advertências do bom senso, e atravessou o fosso que a separava do primata, para ver mais de perto.

Porém, o Gorila não gostou da visita.

Vilipendiou fortemente Coisinha, e ainda a comeu. Literalmente.

O Gorila apanhou uma valente congestão e morreu.

A família quer ser ressarcida.

Coisinha era inimputável.
AS

Dura Praxis, Sed Praxis

Dia de praxes.

Tradução :

Miúdos malucos por todo o lado, com umas caras de ovelhinhas assustadas que até dão pena. Como se alguém os fosse comer ...

Veteranos muito maus, ou pelo, com pretenções de o ser.
Coisa nenhuma, é o que é ...

Tintas, pinturas, nhecas no cabelo e na roupa, pessoas a fazer figuras estúpidas pela aprovação de gente sem mais nada que fazer do que ver os outros na ridicularidade.

Desistir ao fim de um tempo para ir beber um café, ver gente nova, conversar com gente velha, e saber das últimas.

Porque há todo o ano para ver caloirada.




AS

domingo, 23 de setembro de 2007

Pergunta 8



É possível amar duas pessoas ao mesmo tempo?





R: Pondere-se:



  • Estragar a noção romântica da "metade da laranja" e arruinar os finais felizes clichézados;

Ou...


  • Tornar o "provar de dois pratos" numa coisa muito mais profunda e solene, e viver feliz em poligamia.


Continuo sem saber responder, continua a intrigar-me.



SB

Nightwish - Amaranth

Um bom single de lançamento para uma banda "velha" com uma cara nova. Um bom reinicio, uma bom reinventar deles mesmos.Ao bom estilo de Nightwish.



AS

sábado, 22 de setembro de 2007

Sumário

Aprende-se algures numa casinha cheia de monstros civilistas que :

a) saber potes de alguma coisa, não quer dizer coisa nenhuma se não se souber transmitir esse conhecimento às mentes virgens dos estudantes .

b) fazer perguntas estúpidas, dignas de Platão, em torturas orais não ajuda em nada à formação jurídica de uma pessoa.

c) rir-se do contratempo alheio quando se está sentado no patamar acima do condenado é uma certeza dogmática, é certo, mas muito pouco elegante.

d) saber onde se desliga os faróis de nevoeiro num carro de que não se seja proprietário é o primeiro passo para ter uma condução segura.

e) sentir pela perda dos outros é, vá, maricas e altamente piegas, e parece uma tirada vinda de um romance de cordel, mas perfeitamente válido quando, de facto, se sente.




AS

"(...) E assim nas calhas de roda/ Gira a entreter a razão/Esse comboio de corda/ Que se chama coração"*


O comboio chega.

Normalmente gosto das viagens de comboio. São vagarosas e tranquilas. Adoro a passada constante que vai criando um ritmo completamente sincronizado com as minhas pulsações arteriais; cadenciado, suave, compassado. Sempre o mesmo. Quase como uma cantiga de embalar que convida a relaxar, a distender os músculos do corpo, a apreciar a paisagem, e a deixar-me ir. Tenho aversão à inovação, apaixonei-me pela rotina; apanha-me sempre. Entro e saio mecanicamente e já nem ouço o nome das estações. Não preciso, sei de cor...Nunca me engano na saída, e assim posso dispersar e ter pensamentos inúteis como:


“Um dia quero conhecer a senhora que diz o nome das estações. E tomar chá com ela”

Há dias ainda menos profícuos...dias em que os sentidos estão entorpecidos...dias em que não penso absolutamente em nada...como um estado de meditação profundíssimo. Gostava realmente de ser capaz de o fazer: de superar a própria existência, alcançar o nirvana, libertar-me, mas não. É apenas um estágio do sono: actividade onírica prolífica.

Há ainda outros em que a música simplesmente ecoa, nem lhe ligo. Notas dissociadas que fazem a banda sonora de uma vida, sem nexo; os phones que de certa forma me desligam de tudo o que me circunda e criam um mundo autista, paranóico e obsessivo só meu, que eu gosto, que eu amo, e é nele que fico absorta em comparações ridículas e onde ensaio os discursos que farei durante o dia, teorizo problemas e descortino soluções para eles.

Tudo naquela hora, ao ritmo de um trepidar incessante...

Mas hoje foi diferente; hoje foi óptimo. Não ouvi música, não decidi pensar em inutilidades. Hoje quebrei a rotina, quebrei a dose de negatividade que todos os dias injectava no meu sistema...que me consumia e eu rejubilava. Pensei simplesmente que conclui mais um ciclo, que está acabada mais uma etapa e que por uns dias posso descansar. Superei o Adamastor. Job well done! Rest now.

* Fernando Pessoa

SB

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Interrogações Existenciais

Um desgraçado que não tenha braços ...


Vai a oral a tudo?





AS

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

O Adeus às Virgens

Quando se perde a inocência? Quando se deixa de ver o mundo com olhos de criança? Quando se deixa para trás um historial de ideias coloridas? Qual é o momento exacto em que tudo ganha contornos desconhecidos? Qual é o instante em que se perde o que sempre se teve para ter uma imagem real da vivência? Quando se perde a inocência para começar a contar com o ovo nos confins da galinha?

Num banco traseiro de um carro, num sofá que range, numa cama que chia, numa esquina escura em que ninguém passa? Ao tropeçar e cair nos buracos, ao ver os outros cometer erros, ao observar a órbita do planeta, ao sofrer na pele os arrepios da ilusão? Quando é? Qual é o momento? Qual é o instante decisivo em que a perspectiva muda e passa a ser menos colorida, menor terna, menos boa? E tem necessariamente de ser assim? Tem necessariamente que ser negativo, de ser pesaroso, de ser mau? Tem obrigatoriamente de se deixar de ver o mundo como ele é? Tem obrigatoriamente de se preterir uma imagem que se tinha?

Quando se perde a pureza? Quando se acredita? Ou quando se deixa de acreditar? Quando se vê a luz? Ou quando esta se apaga? Quando se perde a inocência? Quando se diz adeus? Quando se deixa para trás o que foi? Ou quando se olha para a frente e se abraça o que se vê?

Quando se deixa de acreditar no que deve ser bom? Quando se vê o mal, ou quando se vive esse mesmo mal? Também se perde a inocência sem viver, só a observar e a criar dogmas pela vida alheia? Ou tem que se viver para saber o que é, de facto?

O que é a inocência afinal? A capacidade de acreditar sem limites que aquilo que venha pode ser recebido de braços abertos? A crença de que corre tudo bem? A faculdade incondicional de ver sempre que se é capaz de fazer alguma coisa? O facto de não ver o que é mais óbvio? Ou o facto desse factor falhar indubitavelmente? É-se inocente quando não se quer ver que o mal existe? É-se puro quando não se vê, ou quando não se quer ver? Isso não implica ser cego, em vez de puro, inocente? Onde começa e acaba a ideia abstracta de inocência? Na vivência, ou no tempo que se dedica a penar no que se vive?

E essa inocência, existe de facto, como um dado inato? Todos nascem inocentes? Todos nascem incapazes de usar preto e banco na tela da experiência? Ou já se nasce com a capacidade, de saber não prever de antemão, saber o que vem, e simplesmente escolhe fingir-se que não existe? É uma escolha ou não se tem essa faculdade, de todo? E porquê? Porque é não se nasce com a capacidade de discernimento que a falta de experiência vem colmatar? Será necessário ter que passar pelo vale das sombras para se conseguir ver a luz? Ou já é possível ver a luz, carregando apenas no interruptor, sem mais esforço, sem mais sacrifício?
Quando se perde a inocência, perde-se o que nunca se teve?
AS

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Típico III

A chico-espertice é um mal canceroso em muita gente.
Assim como o saudosismo é um dos cancros deste país.
E assim como a contagem dos ovos no cu da galinha é um acto recorrente. Tanta gente abrangida por este conceito ...
Quantas vezes é que já me referi a isto, aqui?
Vou ter que mudar de metáfora.
AS

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Animais da Quinta

Lixado quando nos tiram o tapete debaixo dos pés, não é? Sensação desagradável … Um misto de espanto e frustração. Porque será? Será porque contávamos já com uma história feliz, toda escrita e desenhada a cor de rosa? Ou porque foi retirada uma oportunidade brilhante para se fazer o que se queria?

E tinha logo que vir alguma coisa cortar os ânimos a uma cena tão gira e tão bem construída, que se imaginou e que se quer por forca que continue igual … Ora bolas, que é preciso ter azar!

Porque é muito mais fácil fingir que não existiu notificação prévia do que aceitar que se contou como garantido cedo demais factos e elementos que nem sequer tinham hipóteses de parecerem garantidos. Porque é tão mais fácil ser coitadinho do que ver que nem sempre tudo é feito como se quer e imagina. Porque é tão mais fácil deixar de lado a mera hipótese de se ser culpado do que apenas, tão e somente, o desgraçadinho.

Só que agora o desgraçadinho não é assim tão desgraçado como isso, e não precisa de andar no gamanço, porque a filha não é tuberculosa nenhuma, nem precisa de ser sustentada. O dito desgraçadinho é tão culpado como o bêbedo que vai na rua e tropeça numa velha cheia de artroses. O desgraçadinho deixou de o ser a partir do momento em que constrói coisas no ar, de cor duvidosa, e que crê realmente que tudo se pode realizar.

Lixado quando nos cortam as vazas … Lixado quando se contou com o que era quase certo, mas o tal quase certo tinha pés e fugiu à socapa. E quando se fica sozinho a ver a galinha e o ovos a irem a vida deles.

Mais engraçado do que puxar o dito tapete, é ainda a cara de indignação que se adivinha na mente destas crianças inocentes. Porque acreditam realmente que o tempo das vacas gordas ainda permitia luxos de se matarem um ou dois vitelos para festarolas.Esquecem-se é que nem toda a gente gosta de aparar os golpes nos vitelos, que tempos de vacas magras também os há, e é preciso poupar.
AS

Fé é acreditar em coisas que se esperam, a convicção de factos que se não vêem

Ontem pus-me a pensar na fé...

Até que ponto é que ela é constante, se mantém sempre lá, hirta e inabalável como uma rocha, a partir do momento em que constatamos que existe e é um marco perene nas nossas vidas. Será que é?

Adorava pensar que não existem crises de fé; que a fé (no que quer que seja) está lá sempre, não nos abandona, se mantém, lá está, fiel. Mas não...acreditar piamente nisto é errado: chega o dia em que o mundo abana, quase que deixamos de saber quem somos e qualquer coisa estala dentro de nós; tudo se desmorona e a única coisa que nos faria aguentar o estado ténue e débil em que nos encontramos, é estupidamente mais fraca, e incapaz de nos fazer subsistir. Desvanece-se no ar. Não se desvanece o que não existe.

Alguma vez lá esteve? E se estava, porque é que não era assim tão imensa ao ponto de me envolver qual capa protectora, escudo infalível, impenetrável? Crise de fé ou simples constatação de que nada mais existe para além do que está precisamente à frente dos nossos olhos? Nó górdio incrível...

Hoje sou ateia e radicalmente antropocêntrica ao ponto de me ter deixado de devaneios pueris deste género e de constatações facilmente evitáveis sobre o inevitável, há muito, muito tempo. Porque o tempo, esse passa. As crises de fé (no que quer que seja) vêm e vão. E o que fica?

A fé não é nada...a fé somos nós. Caos e nós a tentarmos realinhar as coisas... a tentarmos como podemos...como sabemos. Felizes os dias em que conseguimos.


SB

Pronto, é só uma palavra, seja ...

Rai's partam as alminhas que sabem tudo ...
Não muda nada. Para mim continuam a ser duas palavras ; o que a minha professora de português ensina é lei.
E ela bater-me-ia se soubesse que dou erros de palmatória a escrever ...


AS

domingo, 16 de setembro de 2007

As Duas Palavras

Acordei assim, hoje. Queria escrever tudo. Tenho vontade de escrever. Mas não me sai nada. Queria mostrar o que vai aqui, mas não consigo. Tudo me parece pequeno demais para abarcar o que tenho. Parece-me tudo minúsculo, e nada do que vejo, penso, sinto, choro e rio cabe em lugar algum. É tudo demasiado curto, demasiado vulgar, demasiado visto, muito pequeno para encaixar o que tenho vontade de escrever.
Mordo mil pontas de canetas, rasgo folhas de papel, como se tivessem culpa da minha falta de inspiração. Não me sai nada. Não escrevo uma única palavra. Fica tudo cá preso, como que enguiçado. Não consigo pôr nada cá fora. Tudo acumulado, cresce uma grande espiral, um enorme turbilhão, gigante, cheio de cores e formas, que aumenta sem parar. Cresce uma angustia no peito, não consigo fazer com que passe. Porque não me sai nada.
Obviamente que há alguma coisa de errado. Pessoas normais exprimem-se sem problemas, não tem nada por dizer, quando têm vontade, abrem a boa, e questão encerrada. Tenho vontade de dizer, mas não digo. Queria escrever tudo hoje, também não sou capaz. Tenho tudo cá dentro amontoado, tudo encalacrado, tudo a fazer um peso incrível no peito, nada sai cá para fora.
Tenho vontade de gritar. Mas o som fica preso na garganta, as cordas vocais paralisam, os lábios não obedecem. Tenho vontade de escrever, mas nada do que passo para o papel fica espelhado do que sinto. Fica sempre demasiado aquém, demasiado pequeno. Não demonstra minimamente o que pretendo, nem nada do que tenho. Porque o que tenho é tão maior, tão mais forte, tão pesado, tão gigantesco … Também não é por dizer ou escrever que alivio o que quer que seja. Só tinha vontade de o fazer.
E hoje acordei assim. Com vontade de escrever, mas sem conseguir desenhar uma única letra que leve ao caminho que quero tomar com as minhas vontades. E porque tudo fica muito aquém, muito pequeno, com uma imagem tão reduzida, tão diminuída do que afinal é a realidade, deixo-me ficar. Deixo que volte tudo cá para dentro, recolha as garras e se enrosque a dormir. Deixo-me ficar e não escrevo nada do que queria ter escrito. Ou será que afinal escrevi?
AS

A Conversa

“Às vezes penso que tudo é um sonho e que não tarda nada volto a acordar. Com aquela nítida sensação, de tontura e confusão, de quem esta a ver algo que sabe que não pode ser real. A desejar só mais uns minutos de sono antes do despertar agudo do relógio. E aproveitando até ao derradeiro segundo todos os momentos do belo sonho.
Continuo a achar que daqui a nada vou estar deitada na cama, de olhos fixos no tecto, com um peso no peito, e a certeza de que não passou de um sonho, não podia nunca ser real. Não era para mim, foi só um sonho. Só um sonho, nada mais.
Mas não. Não foi fruto de imaginação adormecida, nem inconsciente superactivo. É mesmo real. Está aqui. É tudo verdade. Nada pode ser mais verdade que isto. Não há mais certeza nenhuma com a forca disto.
E se for só imaginação? E se imaginei tudo? E se o imaginei, e se me imaginei nesta situação? E se houver ainda a possibilidade de nada disto ser real? Se nada for verdadeiro? Sou o quê? Sou o quê no meio disto tudo?
Nada. Não sou nada sem isto.”


- Muito bem, minha senhora. Vai continuar com a medicação prescrita e amanhã volto para conversar consigo, está bem? Se continuar assim, a fazer progressos, talvez possa ir passar o Natal em casa, que lhe parece?
AS

Prova Pleníssima : Insanidade

O que são dois dias na vida de uma estudante da Judicatura?
São 48 longas horas de indeferimentos liminares da boa disposição, pedidos ininteligíveis, falta de litisconsórcio que seria necessário e falta de personalidade judiciária de um ser de bigodes que observa tudo atentamente.
São longas horas de discussão mental acerca da falta de celeridade para ler todos os livros e apontamentos em cima da mesa do juiz, que viola claramente a garantia do processo justo e célere.
Longos os dois dias em que não há contraditório, e só apetece mandar a boa fé processual para o ónus que a pariu.
Dois dias em que os pensamentos discorrem apenas sobre a parte ausente, que dilata grandemente a excepção do desespero em causa.



AS

sábado, 15 de setembro de 2007

Lápis e canetas

Ontem, cravado com uma faca pareceu-me, no parapeito azul de uma das janelas do comboio, estava escrito:

“Isto é só pretos, é verdade! Estão em todo o lado, faz cá falta 10 salazares”.

Tinha que apontar isto, e reproduzi-lo. É o tipo de pérolas que não veria se simplesmente tivesse tirado a carta. Adoro não perceber nada de “arte urbana”. E rir-me. Rir-me muito com a estupidez e com a quantidade de iletrados que por aí andam, que nem insultar em português correcto conseguem...

Apartes à parte...Este tipo de formas de afirmação pessoal para compensar óbvios handicaps, frustrações e traumas de infância mal resolvidos são, à falta de melhor expressão, ridículos. Há outras maneiras de afirmação: acabar o secundário e começar a pensar pela própria cabeça é o primeiro passo.


(sorry for the leave of absence)

SB

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

A Corda ao Pescoço

E as pessoas que só vêem o que querem ver? Ou, dito de outra forma, só vêem o que lhes convém? Que se agarram às coisas quando estão prestes a perdê-las? Que se lembram do que interessa quando estão prestes a dar um passo em frente para o abismo?
Adoro-as. Gente assim dá-me a volta à cabeça. São fantásticas. E estúpidas como tudo. Crêem realmente que conseguem fazer boa figura sem se esforçarem muito e ainda ficam altamente bem vistos quando pensam que tudo lhes sai às mil maravilhas. E ainda que se podem redimir do que fizeram anteriormente por um facto que surgiu depois e que os levará para outros voos e para outras paragens.
Pois bem, enganam-se redondamente. E apesar de adorar gente assim, que acham que se safam sempre na ultima hipótese, mesmo que não se tenham esforçado minimamente para obter o êxito presente, gente assim também se esquece frequentemente dos outros e da inteligência dos mesmos. Só contam com a própria esperteza, por assim dizer. Esquecem-se propositadamente, quem sabe, daquilo que os outros vêem e da imagem com que ficam, e esperam desesperadamente que as acções presentes apaguem o que fizeram antes.
Bom, o que dizer disto, o que dizer destas pessoas, a não ser que as adoro?
Apenas que as detesto. E que conseguem ser mais venire do que uma que eu sei. Porque o fazem propositada e premeditadamente, a contar com o ovo no dito da galinha. Que fazem e acontecem e deixam atrás de si um rasto, misto de estupidez aguda e destruição. E depois regressam, com cara de cachorrinho abatido. Não porque se mostrem arrependidos ou porque estejam de facto sentidos com o que sucedeu. Mas porque não têm qualquer hipótese, senão parecer bem diante dos outros, sob pena de ficarem sem ninguém que os ature. É triste ter que ir bater a todas as portas em busca de um pouco de afecto para não se ficar sozinho. É triste ter que mendigar por um pouco de atenção àqueles a quem se feriu antes. É triste ter que pedir amizade como quem mendiga um pedaço de pão.
Pessoas destas também não têm vergonha na cara. The nerve ...
E se tivessem, faria alguma diferença?


AS

quarta-feira, 12 de setembro de 2007

Mais um pouco disto ...

Estes grandes senhores, como não podia deixar de ser... Nem vou tentar tecer qualquer tipo de comentário ou sequer elogio ao trabalho feito ao longo destes 13 anos, sou demasiado suspeita. Grande êxito, grande golpe de originalidade no que toca ao clip. Está tudo mais que dito. Eles são bons, muito bons naquilo que fazem. Banda de eleição.


AS

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Uma noite destas ...




Noite de tempestade.
Chuva.
Trovoada.

Luzes roxas e azuis cruzam os céus, desenhando farrapos de nuvens escuras, iluminando as ruas com uma atmosférica fantasmagórica.

A água cai do céu em bátegas enormes, cantarolando nas janelas a música do tempo.
O ribombar dos trovões assusta as árvores, a terra, a própria chuva, fazendo lembrar batalhas antigas, lavadas e renascidas pelo som que ecoa nos ouvidos.
Porque é que estas noites parecem mágicas, acima de todas as outras?
Porque parecem vindas de outras eras?


Fazem-me lembrar o que, mesmo longe, está sempre presente.




AS








domingo, 9 de setembro de 2007

E isto, vem a ser o quê?

Um excerto do que poderia ser uma teoria da conspiração, feita por mim. Inteiramente desenhada pela minha mão. Uma metáfora perfeita, um esboço delineado com um encaixe estranhamente em simbiose com a estupidez galopante de uma mente desocupada.


“ Paranoia
In which I think that I'm not confident
Blood into my hands, blood into my hands,
Blood in to my hands I can't deny
A buzz into my ears that makes me mad

But I don't look back

While I'm waiting to die
I don't look back
In a weird lullaby
I'll carry on

And the hope in my heart is dry

But I don't look back

And I cannot reply
I don't look back
While I'm waiting to lie
I'll carry on
While they want to decide for me

Once again, once again
Living in their cage, living in their cage,
They are killing me.

Paranoia
In which I think I'm not that confident
A tiny hope that burns into my breath
A bitter smile delights me at the end ... “


Não da minha autoria, obvio que não chego aos calcanhares da mestria, mas que se encaixou perfeitamente num momento em que a dita paranóia se juntou com vislumbres de um futuro negro, com previsões de visão periférica altamente turvada.
Num momento em que o medo se confundiu com a realidade, que não existe.
Há por aí algum psiquiatra?



AS

Sinalagma

Odeio-te.
Com toda a forca, com tudo o que há dentro. Com todas as palavras, com todos os rancores, com todas as dores, que surgem nesta hora em que o discernimento não existe. Não existe porque o matei, propositadamente para te poder odiar.
Odeio-te. E desejo sincera e ardentemente que morras lenta e dolorosamente, que sofras desmesuradamente, que caias num buraco qualquer e apodreças, sem ninguém que te salve.
Odeio-te. Espero pelo dia em que me poderei rir da tua miséria, cuspir-te em cima quando mais precisares de ajuda, pisar nas tuas chagas, deixar-te morrer todos os dias um pouco. Tal como me fizeste.
Odeio-te. Chegou a hora de retribuir tudo o que foi dado e feito. Aqui está, sem eufemismos, sem camuflagens. Puro e duro. Como deve ser.
E se há coisa que me irrita solenemente é a falta de reciprocidade, chegou o tempo de retribuir o que foi dado. para que não haja nada que atirar à cara de ninguém.
Odeio-te.





AS

sábado, 8 de setembro de 2007

Folhas de Chá, Quiromancia e Bola de Cristal

E a onda de previsões não fica por aqui.
Quem diria que uma pessoa míope visse tanto sem precisar dos benditos óculos?
Quem diria que anos e anos a correr atrás de oftalmologistas, e a morrer com poeiras que entram em conflito directo com as lentes de contacto seriam anos perdidos quando se tem, afinal de contas, a capacidade de ver nitidamente sem precisar das gigantescas dioptrias que fazem parte das deficiências congénitas?

À laia de Harry Potter, diria que a Professora Trelawney havia de gostar de mim. Pela visão interior. Mas principalmente pela visão periférica. Que dá muito jeito e se torna extremamente útil no campo previsional.
Quanto a olhar para dentro ... bem, isso já é outra historia que se pode resumir a duas palavras, já tão conhecidas neste espaço : anedota jurídica.

Fico contente de ter mais opções para além da vida jurídica, no caso de esta me falhar.
Significa que não preciso de me dedicar à pesca com tanta rapidez como inicialmente imaginei.
A vida previsional reserva-me um futuro menos cinzento que a Judicatura.

Tudo porque “ a nutícia côrre dépréssa e a guilinhe tópa!”








AS

Pergunta 7

Porque é que o shopping spree lava a alma? Porque é que as mulheres acham que umas calças de 80€ compensam o vazio que um homem deixa nas suas vidas?





R: Simples.Porque compensam! As calças foram caríssimas, investiram nelas, e como tal assentam na perfeição. Ele não assentava. And it's all about the fitting...

SB

sexta-feira, 7 de setembro de 2007

Definição

Saudade
s. f.,
lembrança triste e suave de pessoas ou coisas distantes ou extintas, acompanhada do desejo de as tornar a ver ou a possuir;
pesar pela ausência de alguém que nos é querido;
nostalgia;
Para o caso de nunca ninguém ter ido ver isto ao dicionário.
Também para aqueles que não sabem o que é, e para os que sabem também.
AS

Toma lá que é Democrático

A ironia é uma coisa fantástica. Aparece do nada, instala-se e fica para jantar, com o maior dos descaramentos. Se for preciso, ainda fica até horas impróprias, chateando tudo e todos com o seu discurso maçador e o sorrisinho irritante de vitória. Mas quem é que chamou esta personagem? De onde é que ela veio, de onde é que é conhecida? Mais uma das que se senta na mesa sem ser convidada, aposto … Daquelas “amiguinhas” brutais que usa e abusa, e ainda crava cigarros como se não houvesse amanhã.

A espertalhona sabe-a toda. E fica mais um bocado na conversa, só para mostrar como a ridicularidade pode ser a perdição de muitos, e como as barracas que se montam na feira para previsões astrológicas de última hora podem ser, ou transformadas numa Igreja Mundialmente Famosa e Especialmente Acertiva, ou relegada para um plano digno do Professor Chibanga. Para mostrar que o mais engraçado não é, de facto, o que se previu, é o que não se previu. E que é tão cómico como estúpido.

A ironia é uma coisa brutal. Sempre a trocar as voltas, a pôr os pés em cima da mesa, a arrotar como um javardão, a beber sem limites, alegre e descontraidamente. A mostrar que as ditas previsões também precisam do seu quê de parvoíce, que é preciso contar com ela. E, sobretudo, que essas previsões ou desígnios de quem não tem mais nada para fazer nunca se esqueçam de convidar a dita amiga para jantar mais vezes.
Sob pena de ela entrar constantemente sem ser convidada, e se abotoar com o melhor lugar em frente à televisão.
Ou não fossem as vidas circundantes autenticas anedotas ( ironicamente ) jurídicas.
AS

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela sem saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto vou voando,
Acordo do meu sonho...E não sou nada!...

Livro de Mágoas (1919)
Florbela Espanca



Para quem não gosta de Florbela Espanca, para quem não a entende, para quem desconfia de tudo o que escreveu...A maior poetisa portuguesa (sim, é!)

SB

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Luciano Pavarotti





1935 -2007
AS

Ever Dream

Perfeita, perfeita... como tudo o que sai das mãos este senhor. Não podia ser mais perfeita, não poderia ser dizer mais. Poderia ter sido eu a escrevê-la, não há nada nesta música que não tenha vontade de dizer. Há quem se perca nas paranóias das palavras, há quem escreva e componha musicas destas. Há quem deveria dizer isto, mas não diz :


Ever felt away with me
Just once that all I need
Entwined in finding you one day

Ever felt away without me
My love, it lies so deep
Ever dream of me

Would you do it with me
Heal the scars and change the stars
Would you do it for me
Turn loose the heaven within

I'd take you away
Castaway on a lonely day
Bosom for a teary cheek
My song can but borrow your grace

Come out, come out wherever you are
So lost in your sea
Give in, give in for my touch
For my taste for my lust

Your beauty cascaded on me
In this white night fantasy




AS

terça-feira, 4 de setembro de 2007

Dados Viciados

Adoro as pessoas que crêem firmemente na convicção que sabem tudo, viram tudo, e que será impossível surgir alguma coisa que as vá surpreender no futuro. Adoro aquele ar de fera ferida que ostentam orgulhosamente pela rua fora, como se nada as pudesse atingir, como se já nada as surpreendesse, como se nada as fizesse mudar de ideias quanto ao mundo negro e cruel que tem visto.
Gosto quando estão plenamente convencidas que experienciaram tudo o que era possível, tudo o que havia para ver, está visto, está arrumado, já nada de novo advém de parte alguma. Gosto do cepticismo acérrimo com que se envolvem, quando olham para o lado e vêem nada a não ser mais um déjà vu.
Aprecio de facto cidadãos que se esforçam tão grandemente por aprender com os erros que cometeram mas depois crêem que não há mais nada que não tenham vivido antes, que tudo é um longo ciclo vicioso, onde é preciso estar alerta para não voltar a cair no mesmo buraco. Aprecio mesmo as pessoas que tem uma imagem de si como fortes, sábios, conhecedores da vida e das suas armadilhas, dos seus altos e baixos, que enchem o peito de ar com a coragem suficiente para aguentarem o embate de uma tragédia pela qual já passaram por todos os papeis.

Gosto da figura patética destas gentes. Sabem tudo, vêem tudo, são experientes. Mas quando tem que levar com a dita e santa experiência pelo sítio que mais lhes aprouver porque não lhes serviu de nada, ficam despidos das peneiras, das frases feitas, do medo dos erros, dos fantasmas do passado. Voltam a ser uma criança inocente, triste, que vê o chupa-chupa partido no chão. Que não sabe o que fazer.
Porque afinal tanta conversa e afinal, nunca tinham visto nada do que acontece, do que sentem, do que pensam, do que vêem. E a nova realidade esmaga-os, deitando por terra todas as teorias cor de rosa, protectoras, seguras, fazendo com que valham tanto como um jornal velho. E o que fica? A surpresa, o espanto, o encanto. Já não se lembravam de que eram capazes de ver coisas fora do círculo gradeado da experiência. Já não se lembravam que havia mais para alem do que foi visto antes. Já não sentiam como gente completa há muito mais tempo do que aquele de que se podiam lembrar.

Tomem lá que já almoçaram! Quem manda ser fundamentalista? Quem manda brincar às friezas, às capas protectoras da alma, às casinhas com tectos de palhinhas? Obviamente, que chega um vento forte, uma tempestade, um tufão, leva tudo pelos ares. E depois? O que se faz? Apanha se o pauzinho e pisa-se o chupa-chupa.

Porque há palavras que se ouvem, olhares que se vêem, gestos que se fazem que não tem explicação aos olhos do que se viu antes, e que dizia que tais coisas não existiam, e se por acaso existissem, acabava por dar no mesmo, porque eram mentiras.
Agora a experiência lixa-se à grande, porque não cabe em lado nenhum do que se vê. Agora, fiquem aí sentados no chão a lamber o açúcar do pauzinho. Porque afinal há vida para além da estupidez pre-estruturada.
Gosto mesmo destes chico-espertos.
Estranhamente familiar.
Ah, pois é.
Diz que sou eu.



AS

Cat Power- The Greatest

Once I wanted to be the Greatest

SB

SOS Voz Estúpida

Bem vindos ao programa de incentivo a Como Lixar a Cabeça aos Outros sem Qualquer Esforço.
Por favor, siga as instruções correctamente para uma maior eficiencia.

Se quer saber a melhor maneira de pôr a cabeca em água a um qualquer cidadão ou cidadã, pressione 1. Irá perceber como é facil e simples alterar a disposicao alheia dizendo a primeira barbaridade que lhe surge na mente!

Se deseja parecer uma criança de 5 anos que não pensa em mais nada senão no Actionman que vai receber no Natal, pressione 2. Iremos ajudá-lo a angariar dinheiro para comprar o referido bonequinho, demonstrando como somos profissionais,e nem sequer lhe cobrando pela consulta psiquiátrica que lhe daremos totalmente grátis.

Se pretende dar uma imagem aos outros de alguém com um grave problema ao nível do sistema confiatório, pressione 3. Aulas detalhadas, com pagamento até 3 meses, sobre como caminhar num muro de 5 cm de altura sem tremer como varas verdes e parecendo um anormal com medo das alturas!

Se acha que consegue melhorar o dia de gente que já não oxigena bem o cérebro, a dada altura, mas não sabe como fazer, pressione 4. Palestras com especialistas que lhe daraão os melhores conselhos sobre como hiperventilar para um saco de papel quando a tentação de pôr o pé em cima do moribundo é mais forte que qualquer outra coisa.

Problemas em acreditar na palavra dos outros?, pressione 5. Acompanhamento personalizado nas alturas em que mais precisa e lições de vivencia quotidiana vão ajuda-lo!

Se não se encaixa em nenhuma das opções referidas, pressione 7 para atendimento personalizado. Um dos nossos assitentes irá prestar-lhe o apoio necessário, e aconselhá-lo a pensar antes de abrir a boca e dizer asneiras, como tambem evitar que faça figura de urso quando quiser brincar às piadinhas para as quais não demonstra talento.

Se mesmo assim, o nosso serviço não lhe for útil, sugerimos que se aconselhe com profissionais, ou que se confesse na paróquia mais proxima. Exame de consciência faz-lhe muita falta neste momento.

Obrigada por escolher os nossos produtos.






AS

segunda-feira, 3 de setembro de 2007

Teoria da Conspiração

Não é justo.
Que se ponham com conversas da treta, que já se sabem de cor, para tentarem impingir uma teoria mirabolante qualquer que tem tudo menos uma ponta de verdade. Que venham com alusões ao sentimento, estúpidas e desconexas, para tentar explicar o que, de tão simples, não requer grande fundamento. Que duvidem sem dar espaço, sequer, para mostrar alguma coisa mais que não sejam as sombras das dúvidas e das perguntas sem resposta.
Não é justo.
Não que duvidem, não que criem teorias, nem que inventem explicações, por mais idiotas que sejam.
Que, mesmo que indirectamente, esteja alguém sempre em causa, alguém que talvez nem mereça ouvir as teorias da conspiração.
Elas podem existir, e indubitavelmente existem, de facto, mas até que ponto é que se é obrigado a ouvir as idiotices que os outros dizem sem protestar, sem partir alguma coisa na cara de alguém, sem se sentir injustiçado?
Porque a partir do momento em que se sabe o que se quer, sabe-se. A partir do momento em que se toma consciência do que se passa, do que se pensa e do que afinal se sente, não há volta a dar-lhe, sabe-se.
Dúvidas? Sempre, até ao final dos dias a ver a luz do sol. Mas o que se sabe ganha sempre, deve ser a única certeza. Não há margem para dúvidas de maior quando o que se sabe, com toda a certeza, ocupa um espaço largamente superior.
Não é justo.
A frustração de saber o que se sabe e mesmo assim ser posto em causa, mesmo por portas e travessas. A impotência de saber o que se sabe e mesmo assim isso não ser explicito o suficiente para acabar com as ditas teorias.
Porque conspiração, teoria ou dúvida, há-de haver sempre. Mas, sobre aquilo que não podia estar mais claro, que está a frente da cara?
Não é justo.
Poupai as alminhas aflitas.







AS

Considerações ressabiadas e amargas sobre o homem

Antes de sonhar sequer em almejar mais da vida do que simplesmente lavar as ceroulas suadas do esposo querido, a mulher de antigamente só ambicionava ter duas coisas: o esposo em concreto, e respectivas ceroulas para lavar. Isto, e claro, ignorar todos os meios contraceptivos inventados pelo Homem, parir 2,1 (ou mais até) criancinhas birrentas e mimadas contribuindo assim para a média de filhos a ter por casal, e esperar que a morte chegue, de preferência antes ou ao mesmo tempo do dito consorte...impensável uma mulher sozinha! Et voilá!, a receita para a vida perfeita e, em última instância a personificação da felicidade terrena para qualquer elemento do sexo feminino.

Entretanto, algures no caminho, a mulher decidiu tornar-se dona de si mesma. Queimou uns quantos soutiens (a gravidade é que não perdoou), fez contas à quantidade de cuecas para lavar (filhos inclusive) e à imensidão de horas curvada a esfregá-las no tanque e não gostou nada do que viu. Máquinas de lavar roupa à parte, a emancipação é linda (a sério que é!) e os homens não servem para absolutamente nada, mas continuamos tão ou mais ingénuas do que sempre fomos, e recusamo-nos a render-nos. Ergueremos para todo o sempre a bandeira pelo romantismo, porque ainda acreditamos piamente que existe o príncipe encantado, que sim!, vamos casar com ele, que de bom grado lhe lavaremos as cuecas que, esperemos, cheirem a rosas, e que sim, tudo, um dia, será perfeito.

Não, não será! Os homens, salvo honrosas excepções, demoram muito, aliás, tempo demais a escolher a eleita (parece que lhes cabe sempre a eles a decisão; de nos adoptar, qual cachorrinhos). Fodem e partem, e no caminho deixam cacos, pedaços desfeitos de sonhos que o inconsciente colectivo, com um empurrãozinho das nossas mãezinhas, sempre nos fez crer que eram verdade.

Parece tragicamente programado. Desculpamo-nos com o síndrome do bad boy; que existe e que o dedinho mágico (e podre) para escolher homens porcos, feios não que até costumam ser escaldantes, e maus, também é real. A necessidade de não estar sozinha vem dos primórdios, da Pré-História, quando ainda julgávamos que o cúmulo da sedução era sermos arrastadas caverna fora pelos cabelos (será que isto já era um indício de que alguma coisa não funcionava bem?). Bottom line, precisamos de alguém. Precisamos sempre de alguém.Tique-taque, tique- taque, a toda a hora. Chama por nós, este instinto de abismo chama por nós, assim como o irritante relógio biológico que insiste em não se calar. Santas feromonas!

E todo este preparado, agora en flambé resulta na sempre tão dramática “Os homens são uns cabrões” ou na clássica “Os homens não prestam”.

Não são eles que não prestam; somos nós que continuamos iguais ao que sempre fomos e nesse aspecto fomos incapazes de evoluir, permanecemos presas a sonhos de infância distorcidos, a homens irreais, a preconceitos falsos, a representações fictícias do que de facto é a vida real. E tudo porque no fundo, somos incapazes de resistir ao instinto animalesco de encontrar alguém com quem copular...e ser feliz.

E não há absolutamente nada de errado nisso.


SB

Conversa de Café

-Pouca vergonha!
-Falta de decência!
-Falta de decoro!
-Deboche!
-Olhem só p'ra isto!!
-Mas onde é que nós chegámos?!
-Debochada!






( ... à mesa de um café não se conversa só sobre o ser e o nada, sobre a existência, sobre profundidades emocionais. Também há a estupidez avulsa . )







AS/SB

domingo, 2 de setembro de 2007

Perdoem-me a linguagem de pátio mas...

Pensar demais é como cagar...dá sempre merda!

SB

sábado, 1 de setembro de 2007

Fica esta gente na História por coisas destas...2

(e com toda a razão)




"Uma comoção passou-lhe na alma, murmurou, travando no braço do Ega:

- É curioso! Só vivi dois anos nesta casa ,e é nela que me parece estar metida a minha vida inteira!

Ega não se admirava. Só ali, no Ramalhete, ele vivera realmente daquilo que dá sabor e relevo à vida – a paixão.

- Muitas outras coisas dão relevo à vida...Isso é uma velha ideia de romântico, meu Ega!
- E que somos nós?- exclamou Ega.- Que temos nós sido desde o colégio, desde o exame de latim? Românticos: isto é, indivíduos inferiores que se governam na vida pelo sentimento e não pela razão...

Mas Carlos queria realmente saber se ,no fundo eram mais felizes esses que se dirigiam só pela razão, não se desviando nunca dela, torturando-se para se manter na sua linha inflexível, secos, hirtos, lógicos, sem emoção até ao fim...

- Creio que não- disse o Ega- Por fora, à vista, são desconsoladores. E por dentro, para eles mesmos, são talvez desconsolados. O que prova que neste lindo mundo, ou tem de se ser insensato ou sem sabor...

- Resumo: não vale a pena viver...

- Depende inteiramente do estômago! – atalhou Ega...."








Os Maias, Eça deQueiroz




SB